Perez Bernardes de Moraes, T., Leopoldo da
Silva Torrecillas, G., 2014. Vicio em drogas, evolução e sociedade. Um estudo
sobre o vicio á partir da psicologia evolucionista.. Antropo, 32, 99-109.
www.didac.ehu.es/antropo
Vicio em drogas, evolução e sociedade.
Um estudo sobre o vicio á partir da psicologia evolucionista.
Drug addiction, evolution and society. A study on the
addiction from the evolutionary psychology.
Thiago Perez Bernardes de Moraes1, Geraldo
Leopoldo da Silva Torrecillas2
[1] Cientista político,
pesquisador na área de psicologia social pela Universidad Argentina John
Kennedy. thiagomoraessp@hotmail.com
2 Administrador, mestrre em
gestão social do trabalho é pesquisador na área de psicologia social pela
Universidad Argentina John Kennedy. geraldo.torrecillas@uol.com.br
Palavras-chave:
Seleção Natural. Psicologia Evolutiva. Drogas Psicoativas. Vício.
Keywords: Natural Selection. Evolutionary Psychology. Psychoactive Drugs. Addiction
Resumo
Este
artigo tem como objetivo analisar as bases evolutivas do vicio humano em
substancias psicoativas. Para tanto, trabalhamos com duas hipóteses dicotômicas
mais recorrentes na literatura de psicologia evolucionista. A primeira é de que
a seleção natural estruturou em nossa mente mecanismos de prazer que estão
ligados a manutenção da vida e ao sucesso reprodutivo, e nesse sentido as
drogas são uma espécie de atalho dentro desses mecanismos, que os coopta por
assim dizer. A dependência, nesse contexto, estaria ligada ao descompasso
químico em nosso cérebro causado por um desgaste A outra hipótese é de que as
drogas psicoativas foram importantes para a manutenção da vida de nossos
ancestrais em períodos difíceis e de muitas incertezas. Então, se considerarmos
o seu fator viciante, ele seria uma consequência adaptativa do uso comum das
drogas no passado. Nossos resultados mostram que, mesmo não sendo possível por
ora definir qual das hipóteses é mais aderente, ambas mostram que os humanos
são altamente susceptíveis á vícios.
Abstract
This article aims to analyze the evolutionary bases of
human psychoactive substances addiction. To this end, we work with two
dichotomous assumptions more applicants in the literature of evolutionary
psychology. The first is that natural selection has structured in our mind
mechanisms of pleasure which are connected to life-sustaining and breeding
success, and accordingly the drugs are a kind of shortcut within those
mechanisms, which the coopta so to speak. Dependence, in this context, would be
linked to the chemical mismatch in our brains caused by wear to another
hypothesis is that psychoactive drugs were important for the maintenance of the
life of our ancestors in difficult times and many uncertainties. So, if we
consider your addictive factor, it would be a consequence of common drug use
adaptive in the past. Our results show that, even if it's not possible for now
to define which of the hypotheses is more adherent, both show that humans are highly
susceptible to addictions.
Introdução
Os
governos de quase todos os países do mundo enfrentam em maior ou menor medida o
problema do tráfico de drogas e da drogalização em massa. Isso faz com que os decisores
públicos enfrentem difíceis dilemas, em um terreno ainda um tanto quanto
incerto. Nesse sentido, para ser eficaz, a governabilidade não demanda apenas
que instituições sejam bem desenhadas e extremamente estruturadas, mas
sobretudo, que atendam esses respectivos problemas às exigências geradas pelos
problemas supracitados. Para tanto, ao desenhar as instituições, é preciso
gerar previsões de como será o comportamento e que ações deverão ser
implementadas pelos agentes em relação a ela.
Sabemos
que não nos parece uma tarefa fácil prever as ações humanas. Assim, se faz
necessária uma séria discussão epistemológica a respeito do comportamento
humano. Esse artigo visa, sob o prisma da psicologia evolutiva, oferecer
conceitos teóricos e epistemológicos capazes de dar subsídios relevantes para
os legisladores, os gestores públicos e os gestores privados, bem como a todos
os interessados no tema da natureza humana. Concordamos, de antemão, com os
argumentos de Pinker (2004), de Ridley (2004), e de outros importantes
cientistas evolutivos, que defendem que, apesar de ter se tornado hegemônico
nas ciências sociais a ideia de távola rasa de que o comportamento humano é
neutro e influenciado apenas pelo meio exterior é um tanto quanto vazia e no
limite irreal, em vista das mais recentes provas em contrário produzidas pela genética
comportamental, pela psicologia evolutiva e por outras áreas do estudo do
comportamento [Vários cientistas cognitivos adotaram abordagens evolutivas para
explicar os fenômenos ligados às áreas especializadas do cérebro. Nesse diapasão
temos o surgimento de um ramo da ciência hoje conhecido como neurociência
cognitiva evolutiva, num esforço de integração entre arqueologia, antropologia
física, paleoneurologia, primatologia, psicologia evolutiva, cognitiva e
social, em um esforço de descrever os mecanismos neurais que se forjaram
durante o longo período de seleção humana, onde pressões atuaram em moldar a
mente humana (Krill, Platek Goetz & Shackelford, 2007)].
Visamos,
em primeiro lugar, sob o prisma da psicologia evolutiva, oferecer contribuições
aos difíceis dilemas a respeito da dependência química. A mente humana se
estruturou, por intermédio da seleção natural, construiu especializações
cerebrais que em alguma medida são capazes de causar dependência. Uma corrente
e psicólogos evolucionistas criaram um modelo neurobiológico onde é unanime a
ideia de que o ambiente ancestral é totalmente antagônico do ambiente moderno
no sentido do segundo oferece mais toxidade em termos de drogas do que o
primeiro. Nesse diapasão, os mecanismos cognitivos talhados para a resolução de
problemas adaptativos são cooptados pelas drogas psicoativas dando falsos
positivos quanto à sensação de ganhos de aptidão darwiniana. A segunda hipótese
é de que ao contrario de uma cooptação, o vicio é uma adaptação em si vide que
as evidências indicam um longo contato evolutivo entre os mamíferos e
substancias psicoativas.
Este
trabalho se divide em três partes contando com esta introdução. Na segunda
parte esboçamos um modelo e evolução do cérebro valido para toda neurobiologia
e expomos as duas visões evolutivas concorrentes á respeito do vicio. No ultimo
capitulo traçamos considerações finais.
Mente, comportamento e
dependência.
Estrutura da mente em perspectiva evolutiva, modelo
trifásico de estruturação da mente
Fowler
observa que nos últimos 50 anos o campo da biologia e o das ciências sociais
produziram, dentro de suas limitações, grandes contribuições para o estudo do
comportamento humano. A biologia teve um avanço notável quanto à percepção e o
desenvolvimento de taxonomias e métodos investigativos sobre o cérebro e seu
desenvolvimento, e as ciências sociais tiveram avanços consideráveis ao
conseguir explicar o efeito que o ambiente social tem sobre as massas, bem como
sobre o comportamento politico. Entretanto, cada área avançou de forma
limitada, o que sugere que, para a compreensão de fenômenos sociais cada vez
mais complexos, cientistas sociais e biólogos devem passar a desenvolver
esforços conjuntos, buscando avançar de forma mais significativa nos estudos da
natureza humana (Fowler & Schreiber, 2008).
Em nosso texto, visamos o mesmo objetivo de Fowler, qual seja, o de não
legar os fenômenos explicações seja pelo determinismo biológico, seja pelo
determinismo social. Buscamos, antes de tudo, obter uma compreensão mais
complexa e integral de homem à luz da psicologia evolutiva.
Segundo Mithen (1995, 2000, 2002),
para compreender a estrutura da mente humana, os pesquisadores devem recorrer a
diversas fontes de dados. Uma das mais significantes são aquelas levantadas
pelos arqueólogos. A compreensão da estrutura neural exige um mergulho de pelo
menos seis milhões de anos, pois ao que tudo indica nesse período conviveram
dois tipos distintos de símios que seguiram caminhos distintos, um, em sua
jornada evolutiva, tornou-se “homem”, e o outro, de símios modernos, deu origem
a chimpanzés e gorilas. Homens são seres biológicos com capacidade
relativamente alta de adaptação a diversos ambientes e culturas. Foram pelo
menos quatro forças evolutivas que proporcionaram tais condições aos homens,
sendo elas a mutação, o fluxo de genes, a derivação genética e a seleção natural
(Haviland, Prins, Walrath & Mcbride, 2011).
Há
de se considerar que a principal chave da seleção natural nesse diapasão é a
adaptação, que, passada de geração em geração, auxiliam os indivíduos na
sobrevivência e reprodução. Entretanto, há outras mudanças nesse processo que
podem ser classificadas de formas diferentes, como ruídos e também subprodutos.
Ruídos são alterações aleatórias genéticas que não tem impacto significante
sobre a vida ou reprodução do indivíduo. Subprodutos são, por assim dizer,
consequências acidentais da adaptação. Comumente as ciências sociais concebem a
mente, como uma tabula rasa, que não tem atividade inata e só
adquire marcas a partir de experiências vividas. Entretanto, avanços em áreas
da antropologia, da neurociência e da biologia vem postulando que, ao contrário
disso, o cérebro já tem marcas próprias, e, não obstante, é modular, ou seja,
composto de vários módulos especializados designados para atividades
especificas (Liddle, Bush & Shackelford, 2011).
Mithen (1998, 2000) divide em três grandes fases o processo
de estruturação da mente. Na primeira, as mentes são regidas por uma
inteligência, por assim dizer, mais geral, e uma gama de regras sobre tomadas
de decisão e aprendizado geral são adquiridas. Na segunda fase, a inteligência
geral foi refinada e acrescida de inteligência especializada, onde cada
inteligência age sob um domínio especifico. Na terceira fase, as inteligências
múltiplas, gerais e especializadas, parecem trabalhar de forma integrada,
convergindo em um fluxo entre conhecimento e domínios comportamentais. A
psicologia evolutiva, primeiramente, que aponta para a inteligência social, um
campo especializado da mente útil para interagir com os outros indivíduos e
também ler sua própria mente. O segundo vestígio é uma aparente inteligência
naturalista, ligada à compreensão do mundo natural, essencial para vida de
caçadores e coletores. O outro vestígio legado pela física intuitiva é a capela
da inteligência técnica, onde os módulos responsáveis pela manipulação e
manufatura de utensílios foram abrigados. Talvez, nesse diapasão, haja uma
quarta capela, qual seja, a da inteligência linguística (Mithen, 2006).
No período
entre 4,5 e 6 milhões de anos atrás não há vestígios significativos, o que
leva a investigação desse período quase que à total escuridão. O único
ancestral comum que se constata nesse período é o símio, na África. |
De 4,5- a 1,8
milhões de anos atrás, um período de 2,7 milhões de anos, é um período que
deixou algumas evidencias arqueológicas que interpretadas hoje, nos oferecem
algumas luzes sobre a evolução, mas ainda deixam espaço para especulações.
Alguns comentaristas preferem destacar, dentre os possíveis atores desse
período, o homo habilis, mas
especula-se que tenha havido outros dois, o homo rudolfensis e o homo
ergaster. Os três, ao longo do desenvolvimento de suas características,
apresentaram padrões bem divergentes de comportamento, sobretudo com relação
ao homo habilis, que adicionou a
carne na sua alimentação e aprendeu a manipular ferramentas. Os outros dois
eram vegetarianos e se apresentaram, em relação ao homo habilis, com uma morfologia mais robusta homo habilis mais próximos de uma
morfologia mais robusta. [O homo
habilis parece ter sido disposto da capacidade de construir grandes
bancos mentais sobre as características do mundo, e também parece haver um
complemento quanto a isso onde evidencias apontam que ele era capais também de
seguir e decifrar cifras visuais e de desenvolver hipóteses, por exemplo,
sobre o paradeiro de uma possível presa. O que podemos afirmar é que as
múltiplas inteligências ainda estão se desenvolvendo e o background maior ainda é o da inteligência
geral. Entretanto, o tamanho do cérebro do hom o habilis em comparação com o de seus predecessores sugere
que ele era já dotado também de uma grande inteligência social (Mithen, 1995)] [Nossos corpos hoje são
adaptados fisiologicamente á dieta dos caçadores do Pleistoceno, animais
silvestres, frutas, castanhas, e vegetais frescos. Há de se considerar que
boa parte das doenças hoje, como por exemplo, as circulatórias, estão ligadas
a nossa alimentação atual que muito pouco se parece com aquela nosso corpo
esta adaptado (Mithen, 2002)] |
Mais adiante
na historia, no período entre 1,8 milhão e 100 mil anos atrás, temos a
presença do homo erectus, que, ao
que tudo indica, descende do homo
habilis. O homo erectus parece
ter chegado simultaneamente em três pontos distintos do mundo: África
oriental, China e Java, num cenário que passa a incluir o oriente médio, Ásia
Oriental e do Sul. Por volta de 150
mil anos atrás surge outro ator, o homo
neanderthalensis – ou, em português, Homem de Neandertal. As
ferramentas encontradas que remontam a esse período, dentro de um intervalo
de pelo menos 1 milhão de anos, são como que kits de ferramentas basicamente compostos de itens rearranjados,
algumas demonstrando um alto e sofisticado grau de aptidão na manufatura,
sendo a maioria delas feita de pedra ou madeira, e, em alguns casos, ossos. |
Por fim, num
intervalo ainda mais curto e recente, de 100 mil anos atrás até os dias
atuais, aparece em cena o ator mais curioso de todos, nossa própria espécie,
o homo sapiens. Ele é visto primeiro
na África do Sul e no Oriente Médio, em um elenco que inclui os neandertais e
o homo sapiens arcaico. Entretanto,
o mais surpreendente acontecimento parece ter ocorrido há 60 mil anos atrás,
quando, paralelamente à construção das primeiras embarcações e de uma
restrita série de ferramentas, inicia-se a construção de uma grande
diversidade de objetos, fabricados com uma infinidade de materiais. O homem,
então, não apenas passa a construir casas, mas a praticar artes, talhar
ferramentas sofisticadas, num aceleramento no ritmo de produção cultural, que
continua até os dias atuais |
Tabela
1. Estágios da evolução humana (Howells, 1997; Mithen, 1997,
2002, 2009; Dutton, 2009).
Table 1. Stages of Human Evolution (Howells, 1997; Mithen,
1997, 2002, 2009; Dutton, 2009).
Em
comparação com a mente dos nossos ancestrais mais próximos, os símios, apesar
de haverem semelhanças consistentes, há enormes discrepâncias em relação à base
cognitiva da interação do símio com o mundo natural em um diapasão onde, apesar
de conseguir estabelecer uma relação complexa com o meio natural, parece ser
pouco dotado de criatividade para manejar os conhecimentos do mundo natural. Ao
que parece, diferentemente de nós, os outros primatas parecem ter uma mente com
alguns poucos micro domínios que possibilitam a construção de “mapas” mentais
naturais (Mithen, 1997, 2006). [Com a terminação do genoma, comparações
importantes quantitativas e qualitativas podem ser feitas. Um debate
interessante nesse ponto esta na analise quantitativa da diferença do DNA dos
humanos e dos chimpanzés que está estipulado em 98,5% entretanto alguns
argumentam contra esse numero e afirmam que se forem acrescentadas na contagem
inserções ou deleções textuais o numero certamente cai para 95% (Riddley,
2002). Em sua, as diferenças mais marcantes entre homens e os demais primatas
está no tamanho do cérebro (significativamente maior) e o fato dos homens serem
bípedes. Ao que parece o bipedismo também tem relação com o crescimento do
cérebro, pois o mesmo ocorreu após uma etapa do desenvolvimento onde o cérebro
já tinha um volume maior em relação aos demais primatas (Haviland, Prins,
Walrath & Mcbride, 2011)].
Observando
uma parte mais recente da historia da evolução humana, o homo habilis, ao longo de sua evolução, estruturou uma catedral
mental muito parecida com a do seu ancestral de seis milhões de anos atrás, com
a diferença de que as capelas da inteligência social e técnica eram maiores.
Estavam, ainda assim, incompletas (Mithen, 2002). [O cérebro, através de todo
sistema nervoso nos possibilita perceber o mundo, isso vai bem além dos 5
sentidos clássicos, a saber: visão, audição, tato, olfato, e gustação. Através
de uma gama de células especializadas, as energias projetadas no ambiente, numa
interface para com o corpo, são percebidas das mais diversas formas. O
organismo detecta desde alterações sutis na temperatura, luzes, sons, gostos,
umidade do ar, etc. Mesmo os sentidos clássicos, quando analisados de forma
mais rigorosa, demonstram padrões muito complexos, a exemplo a visão, somos
capazes de identificar cores, cores em movimento, luzes. O mesmo ocorre com os
demais sentidos. Os receptores específicos do organismo podem ser classificados
da seguinte forma: 1) mecanorreceptores, 2) fotorreceptores, 3) termorreceptores
e 4) quimiorreceptores. Além disso, cada um desses se divide em muitos outros
subtipos ainda mais especializados. Porém, nem todas as informações que são
obtidas através desses mecanismos se tornam consciente e grande parte dessas
informações permanecem no nível das informações inconscientes e são utilizadas
por exemplo para a coordenação da motricidade, e para o funcionamento dos
órgãos].
Na primeira
fase, a mente é dominada por uma única “nave”, um módulo único onde todo
processo de pensamento ocorre. Essa fase proporcionou, em seu desenrolar, uma
serie de regras de aprendizado geral e de tomadas de decisão, apesar de que
neste cenário as faculdades cognitivas ainda eram pouco aprimoradas, havendo
erros frequentes, não ficando constatados, então sinais significativos de
padrões de comportamento sofisticado. |
Na segunda
fase, a nave de inteligência geral permanece, mas surgem e se desenvolvem uma
serie de “capelas” de inteligências especializadas, onde cada uma das
inteligências passa a vigorar sob um determinado domínio que é vital para o
funcionamento da mente como um todo. Nesse período, ao que tudo indica, houve
pelo menos três capelas de pensamento dominantes. |
Na terceira
fase, há uma fluidez entre as informações das diversas capelas, outrora
praticamente incomunicáveis, dando-se, então, de forma dinâmica, com livre
acesso de informação entre as capelas. Nessa fase, a evolução levou a mente a
administrar de forma conjunta pensamentos e inteligências especializadas. |
Tabela
2.
Modelo trifásico da evolução da mente humana (Mithen, 1998, 2005).
Table 2. Three-phase model of the evolution of
the human mind (Mithen, 1998,
2005).
O
vicio em drogas psicoativas como uma cooptação dos mecanismos funcionais
adaptativos
Quanto às pesquisas sobre
dependência, é possível afirmar que são escassos os estudos que em perspectiva
evolutiva tratam dos efeitos neuroquímicos do vício no cérebro. Nosso organismo
desenvolveu uma ampla gama de processadores de estímulos, nesse sentido, as
substancias psicoativas atuam sobre esses mecanismos emocionais e causam
situações de aparente ganha de aptidão, de bem estar. Esses mecanismos se
desenvolveram não com o intuito de serem eficientes receptores de substancias
psicoativas, mas algo como um termômetro, que à partir dos resultados químicos
do organismo sinaliza o seu estado. Nesse sentido, o vício parece estar
intimamente ligada ao descompasso químico do cérebro, bem como, social (Koob
& Moal, 2001; Panksepp, Knutson & Burgdorf, 2002; Durrant, Adamson,
Todd & Sellman, 2009).
Podemos
dizer que as emoções e seus reguladores foram talhados pela seleção natural com
o intuito de ampliar as possibilidades reprodutivas, ou seja, não são pautadas
somente na sobrevivência, bem como a maximização das aptidões individuais, e
não necessariamente as do grupo. Isso quer dizer que as pressões da seleção
natural provocaram mudanças no sistema cerebral. Emoções foram moldadas pelos
desafios adaptativos, e nesse sentido podemos afirmar, de antemão, que as
emoções em uma escala evolutiva podem, em alguma medida, ser definidas como
prazerosas ou dolorosas, assim, não há emoções neutras. As emoções colocavam os
indivíduos mais ou menos vantajosos frente à necessidade da seleção natural de
se reproduzir, e também emoções positivas, como euforia e excitação, promoviam
ganho de saúde. Já emoções negativas parecem ter se desenvolvido como defesas.
Ansiedade e dor, por exemplo, parecem ser defesas que levam o indivíduo (ou
deveriam levar) a administrarem suas ameaças potenciais (Nesse & Berridge, 1997; Nesse, 2002; Saah, 2005).
Ações que aumentam as aptidões
do tipo darwinianas tendem a gerar prazer, como por exemplo, amizades, ou uma
boa comida, ou sexo. As drogas
psicoativas nesse sentido, como por exemplo, opio e cocaína, parecem funcionar
como um atalho dentro do mecanismo de prazer. Entendemos que elas nos remetem a
sensações que em períodos remotos não remetiam necessariamente a felicidade,
mas a sensação de satisfação, de saúde, momento de maximização de seus
indicadores de aptidão. Em tempos remotos essas sensações estavam ligadas, por
exemplo, a concretização de um ritual de acasalamento, ou uma caça bem
sucedida. Entretanto o uso de substancias que alteram nossos estados mentais
não carrega consigo os mesmos ganhos previstos de indicadores de aptidão, e no
limite, pode agir de forma patogênica impondo um ciclo entre os circuitos
mentais, pois essas drogas, agem, sobretudo sobre mecanismos ainda arcaicos do
cérebro e ao induzir emoções positivas, muitas vezes o faz a revelia, por
exemplo, das defesas neurobiológicas. Com o tempo de uso prolongado, esses
mecanismos são desestabilizados, o que pode levar a vida comum a se tornar
ainda mais desaprazível e induzir mais ao vício (Pharo, 2011; John‐Smith,
McQueen Edwards & Schifano, 2013; Fox, Oliver & Ellis, 2013). [A
cocaína, ao ser fumada, cheirada ou injetada age no organismo proporcionando um
acumulo de dopamina. Uma vez fixada, a dopamina passa a estimular os receptores
neurais e a alterar os impulsos elétricos nas células receptoras, alterando as
funções dessas células. Para manter o balanço químico o cérebro tem de produzir
mais ou menos dopamina. A cocaína nesse sentido interferindo neste mecanismo de
controle ocupando as células transportadoras de dopamina, levando a dopamina a
se acumular. Mas a cocaína age também impedindo a ação de outros
neurotransmissores, como a serotonina e a norepinefrina, mas em menor medida
(Nestler, 2005). Baseado no teste com insetos (abelhas) em contraste com dados
de testes com mamíferos, com a administração de cocaína, se formulou a hipótese
de que se a cocaína é um composto eficaz de defesa da planta que age através da
perturbação do controle motor do herbívoro, nesse caso os sistemas neuroquímicos
almejados pela cocaína por sua vez modulam o processamento da recompensa, assim
as propriedades de reforço/vício da cocaína são como um efeito colateral
(Barron, Maleszka, Helliwell & Robinson, 2009)].
Uma das causas que também levam ao uso
compulsivo é o mascaramento de emoções negativas. Entretanto, o desgaste
químico que as substancias causam na flora cerebral não permitem que esses
efeitos sejam duradouros. Logo, propomos que a dependência esta em correlação
com um complexo sistema de recompensas próprio da estrutura cerebral (Saah,
2005). [Sobre os efeitos adaptativos advindos das pressões da seleção natural,
há de se que esses efeitos requerem espaços de tempo consideravelmente grandes.
É possível dizer que, vide as transformações recentes nos hábitos humanos, ainda
não estamos biologicamente adaptados a muitos deles e muitas de nossas
adaptações do passado, hoje representam transtornos, e em muitos casos,
desvantagens (Krill, Platek Goetz & Shackelford, 2007). Há novas evidencias
neurológicas que indicam um desgaste, sobretudo no córtex pré-frontal, região
essa responsável por complexas funções como autonomia comportamental e
autocontrole. Entendemos então que pelo fato de algumas drogas causarem
desgaste nessa região, há uma tendência ao desenvolvimento de um comportamento
mais compulsivo, em testes neuropsicológicos com imagens do cérebro foi
revelado que os lobos frontais são particularmente vulneráveis, aos efeitos de
drogas, sobretudo cocaína e álcool (Lyvers, 2000)].
Em resumo podemos entender que a
percepção alta de dopamina e serotonina, em um período remoto onde o cérebro
era mais emocional e sensível a essas substâncias, pode ser entendido como uma
alta capacidade adaptativa para este tempo, entretanto, frente a nossos hábitos
atuais, essa necessidade de dopamina e serotonina no corpo, aliada ao uso de
substancias psicoativas, representa uma profunda desvantagem (Wise, 1988, 1996;
Savage, Joranson, Covington, Schnoll, Heit & Gilson, 2003). [Há de se considerar o
papel da globalização econômica, segundo Gonçalvez (1999; 2003), a globalização
na América Latina fez aumentar o trafico de drogas, bem como os níveis de
violência].
De
qualquer maneira somente o déficit de dopamina no déficit devido ao uso de
drogas, e o déficit de serotonina que podem diminuir a racionalidade na tomada
de decisão, não são fatores totalmente determinantes para o vício. Há de se
considerar, sobretudo, a estrutura social no qual o indivíduo viciante está
adentro.
A
principio, a exposição dos argumentos dessa sessão nos levam a crer que, ao que
parece, ainda há uma forte influencia de fatores ligados a própria estruturação
do cérebro e da seleção natural. Nesse caso, o que se indica é que o cérebro
não está adaptado ao uso de substancias psicoativas, nesse caso, o uso pode levar
ao vício, sobretudo por conta do descompasso químico causado no cérebro. Essa é
a visão mais ampla na psicologia evolutiva, entretanto, há poucos autores que
apontam uma direção contraria, de que supostamente teríamos nos adaptado ao uso
de drogas, e não obstante, elas teriam sido decisivas para a sobrevivência dos
nossos ancestrais. Esse assunto será brevemente tratado a seguir.
O vicio em substâncias psicoativas como uma adaptação
biológica.
Há
um interessante paradoxo, de um lado, ao que parece diversas plantas e vegetais
desenvolveram níveis de toxidade como defesa natural, para no limite evitarem
serem consumidas. Entretanto, como explicar que alguns mamíferos, não só tenha
desenvolvido algum nível de tolerância frente essa toxidade, mas no limite,
tenham desenvolvido dependência em relação às mesmas? De um lado temos que a
explicação, como já dada anteriormente no texto, que o vício está ligado à
funcionalidade dos mecanismos de recompensa próprios da estrutura cerebral,
entretanto é possível levantar uma duvida quanto a isso, ou ao menos introduzir
outras vias explicativas.
É
interessante notar que evidencias arqueológicas apontam que há pelo menos 13
mil anos atrás, os homens faziam uso de uma ampla gama de substancias
psicoativas. Foram encontradas substancias como café, tabaco, khat, coca, noz
de betel em diversas localidades do globo. Dois antropólogos da Universidade de
Berlim, Sulivan e Hagen, acreditam que o uso compulsivo de substancias
psicoativas pode ter sido introduzido como pratica social humana em tempos
ainda muito remotos, como uma forma de aliviar a tensão e o desconforto frente á
tempos muito difíceis de escassez de nutrientes. Através de substâncias que
potencializavam a quantidade de neurotransmissores dopamina e serotonina no
organismo, o homem pode ter lutado em tempos remotos contra o frio, a fome, o
humor, a fadiga, as dores (Sulivan
& Hagen, 2002). [Quase todas
as drogas recreativas de hoje, indo desde cafeína, nicotina, THC (substancia
ativa da cannabis), cocaína, anfetaminas e heroína (com exceção do álcool) são
neurotoxinas de plantas, inclusive as drogas sintéticas, são compostos de
várias dessas neurotoxinas. Nesse sentido há duas correntes que os dicotômicas
explicativas; uma primeira corrente compreende fitobiologistas, ecologistas e
farmacologistas que ao estudarem plantas e a interação com os herbívoros
concluem que os efeitos psicoativos da algumas plantas visam espantar os
herbívoros; de outro há uma corrente sobretudo de neurobiologistas que
enfatizam o papel da dependência à recompensa, nesse caso a dependência seria
resultado da interferência da droga nos sistemas de recompensa naturais (que é
onde se encaixa este artigo). Quanto às duas perspectivas os autores levantam
alguns pontos, primeiro, há dados interessantes sobre a domesticação de plantas
que sinalizam que o homem pode ter uma relação muito longa com as substancias
psicoativas; segundo, ao que parece é improvável que as primeiras populações
humanas exerceram uma pressão seletiva significativa sobre as plantas, nesse caso,
entendemos que as plantas evoluíram para defender-se, sobretudo de
invertebrados e vertebrados herbívoros, nesse caso, abra-se um precedente para
novas pesquisas que comparam as semelhanças da ação de drogas neurotoxicas
sobre os sistemas dopaminérgicos de vertebrados e invertebrados. As drogas de plantas podem ter sido usadas
como um componente de sinalização, o que quer dizer que além dos efeitos
tóxicos, a planta pode ter evoluído para acionar o sistema nervoso central dos
herbívoros, sobretudo as áreas que dizem respeito à atenção e aprendizado sobre
o ambiente local, certamente, perigoso. Por fim, considerando que a maioria das
drogas são toxicas, a relativa ausência de overdoses
pode indicar a presença de mecanismos mediadores, nesse caso, resistência.
Aqui a especulação esta no sentido de que o consumo de drogas pode ter
fornecido ao longo da seleção natural, benefícios superiores aos seus custos
(Hagen, Sullivan, Schmidt, Morris, Kempter & Hammerstein, 2009)].
O
argumento aqui vai contra a perspectiva tradicional onde se propõe que o vício
esta ligado ao mecanismo de prazer, há uma relação de feedback’s gratificantes. Entretanto, as drogas viciantes mais
comuns utilizadas hoje derivam de plantas que evoluíram mecanismos para punir
aqueles que a consomem não para gratificação. Há uma pequena corrente de
autores que vem apresentando evidências interessantes, seja na ecologia vegetal
evolutiva, ou na genética das enzimas hepáticas, há uma crescente pesquisa
entorno do citocromo p450, que indica
ao que parece que os hominídeos foram expostos as toxinas das plantas ao longo
de toda sua evolução, incluindo aquelas que afetam o sistema nervoso dos
animais. Nesse caso em síntese pode haver a possibilidade dos seres humanos
terem evoluído para adquirir maior resistência em relação às neurotoxinas, como
uma forma de contra peso a adaptação das plantas de se tornarem nocivas (Sulivan,
Hagen & Hammestein, 2008). Abaixo na Tabela 3, Listamos os principais
exemplos de enzimas que interagem com o citocromo
p450 para promover desintoxicação no metabolismo. Entendemos que os dados
filogenéticos aqui apresentados sobre o citocromo
p450 em mamíferos são provas com alta aderência da existência de uma longa
historia evolutiva de exposição á toxinas de plantas. Este fato por si só
parece falsear a hipótese de que a exposição humana á toxinas é evolutivamente
recente o que por sua vez promove um desencontro entre as drogas atuais e as do
período ancestral.
CYP1A2 |
CYP2A6 |
CYP2C8 |
CYP2C9 |
CYP2D6 |
CYP2E1 |
CYP3A4 |
Cafeína (Café) |
Nicotina (Tabaco) |
Taxol (Taxus
brevifolia) |
Δ9-THC (Canabis sativa) |
Codeína (Papaver somniferum) |
Teobromina (Cacau/Chocolate) |
Cocaína (Erythroxylon
coca) |
Teofilina (Camellia Sinensis) |
Cumarina (Feijão tonka dipteryx
odorata) |
*** |
*** |
Harmala (Peganum harmala) |
*** |
Quinino (Cinchona) |
Teobromina
(Cacau/Chocolate) |
Cotinine (metabólito da nicotina) |
*** |
*** |
Harmal (Peganum
harmala) |
*** |
*** |
*** |
*** |
*** |
*** |
Esparteína (Lupinus) |
*** |
*** |
*** |
*** |
*** |
*** |
Ioimbina (Pausinystalia yohimbe) |
*** |
*** |
Tabela 3.
Exemplos de enzimas humanas do citocromo
p450 importantes no metabolismo das drogas (Sullivan, Hagen &
Hammerstein, 2008; Kirkham, 2009; Forbey & Foley, 2009; McKey, Cavagnaro, Cliff & Gleadow, 2010).
Table 3. Examples of human cytochrome p450
enzymes important in drug metabolism (Sullivan, Hagen & Hammerstein,
2008; Kirkham, 2009;
Forbey & Foley,
2009; McKey, Cavagnaro,
Cliff & Gleadow, 2010).
Nesse
sentido, pode-se dizer aqui que os humanos se adaptaram ao uso de drogas,
justamente para desfrutar dos seus benefícios, se assim não fosse, as
adaptações ligadas ao citocromo p450 em
poucas gerações, caso não tivessem utilidade, desapareceria vide ao mecanismo
de deriva genética.
Conclusão
Indubitavelmente
é preciso que avancemos ainda mais no que diz respeito a compreensão
neurobiológica do vicio e seus vetores. As futuras pesquisas devem incluir os
elementos da ecologia e da psicologia evolutiva a fim de aferir como as toxinas
e a cognição humana co-evoluíram.
O
argumento tradicional da psicologia evolucionista é de que as drogas
representam um atalho dentro dos mecanismos que foram talhados pela seleção natural
para gerir emoções funcionais. Essa argumentação assume a premissa que o
ambiente ancestral é toxicologicamente muito distinto do período ancestral, por
isso o vicio em drogas pode ser definido como uma cooptação. A outra visão é de
que o vicio em drogas não é um acidente evolutivo, isso porque, as evidências
indicam (sobretudo as ligadas ao citocromo
p450) que a exposição á toxinas vem de uma longa historia evolutiva, nesse
sentido o vicio não seria uma cooptação e sim uma adaptação.
Foge
do escopo deste trabalho responder qual das duas visões estão certas, somente
futuros estudos poderão nos dizer. De toda forma, ambas as premissas prevêem
que algumas drogas são mais fisicamente agressivas do que outras. Sendo o vicio
uma adaptação ou uma cooptação de mecanismos funcionais, á substituição de
drogas com maior peso epidemiológico (mais fisicamente agressivas, mais
viciantes) por drogas mais leves (fisicamente menos nocivas e menos viciantes)
parece ser uma via e saúde preventiva funcional e que atende as singularidades
da neurobiologia humana.
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